Era uma quinta-feira de céu encoberto em Nova Lima. O 1º dia da primavera de 2016, quando o então candidato a prefeito pelo DEM, Vitor Penido, e o vice Luciano Luck (PSL), foram empossados pela Câmara em substituição ao prefeito Cássio Magnani Junior (PMDB) e a vice Fatinha Aguiar (PT), afastados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por abuso de poder econômico na eleição de 2012.
O evento, por sinal muito concorrido, ocorreu por volta das 16h e dali o novo prefeito e o seu vice atravessaram a Praça Bernardino de Lima para tomarem assento em suas cadeiras na sede do executivo. Um dia cinzento como outro qualquer, que marcava o fim da agonia para os moradores da cidade que já não suportavam mais o “cassa, não cassa” do prefeito.
O clima era tenso na Prefeitura, pela alternância do poder entre o presidente da Câmara, Nélio Aurélio, e o prefeito Cassinho que governava amparado por liminares. Ainda assim, o chefe do executivo, mesmo cassado definitivamente após este cabo de guerra com a justiça, teve a decência de enviar, muito polidamente, convites às autoridades do município para a posse de seu sucessor e o vice.
A situação era critica. A Prefeitura vivia uma crise financeira sem precedentes, iniciada em 2014/15, com uma despesa de pessoal que chegou a comprometer 69% da receita corrente líquida, obrigando o prefeito a assinar decretos demitindo 167 servidores concursados (decretos estes revogados pela justiça a pedido do Ministério Público).
O discurso do novo prefeito, e também candidato a prefeito Vitor Penido (uma situação insólita para todos), revelava a preocupação de quem estava assumindo um município arruinado pelas dívidas. Praticamente sucateado, como ele mesmo disse, com a promessa de fazer o possível para reverter aquela situação.
Não seria fácil, ele admitiu. Daquele dia até o 1º de janeiro de 2017, quando tomou posse como prefeito eleito para o seu 5º mandato (o 6º, segundo o TSE), Vitor mal teve tempo e recursos para pagar o 13º salário dos servidores e manter os gastos com a folha no limbo. A bagunça era generalizada.
As dívidas herdadas, segundo ele próprio afirmou à época, passava dos R$ 140 milhões. A previsão era de que a crise avançaria até 2017 ou, quem sabe, duraria todo o seu mandato. Ele não prometeu milagre. Nem podia. Nem ele mesmo sabia por onde começar as contas.
ENFIM, A BONANÇA
Aos poucos as coisas foram se ajeitando. Além de revisar contratos, renegociar dívidas trabalhistas e cortar despesas extraordinárias, uma luz acendeu no fundo do poço: era a reforma administrativa I e II, a única solução para tirar o município do atoleiro, além, claro, das reformas tributárias e outras por vir.
Em 2017/2018 essas reformas foram aprovadas pelos vereadores, sob forte pressão dos que não aceitavam, por exemplo, a criação do regime jurídico único. Para o prefeito, essa era a única alternativa para se evitar demissões em massa ou atraso de salários, como vinha ocorrendo antes.
O resultado deste choque de gestão veio a galope. A curva ascendente da crise começou a declinar em 2018, e em 2019 o município teve o primeiro grande efeito das mudanças até então impostas pelo novo governo: fechou aquele ano com um superávit orçamentários de R$ 130 milhões.
A Prefeitura, enfim, emergiu do atoleiro e fechou o primeiro semestre de 2020 com mais de R$ 250 milhões em caixa e um pacote de obras que demonstra o crescimento econômico do município acima dos dois dígitos, mesmo em meio à crise causada pela pandemia.
José Cleves