Nova Lima é a cidade com maior concentração de ricos no Brasil

“Onde Estão os ‘Ricos’ no Brasil”

Município é o primeiro colocado no ranking do estudo elaborado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), feito com base em declarações de Imposto de Renda de 2018.

A Fundação Getúlio Vargas (FGV) divulgou no último dia 11 de agosto, o estudo “Onde Estão os ‘Ricos’ no Brasil”, em que aponta a cidade de Nova Lima como a mais rica do País. Com renda média de R$ 6.253,03 por habitante o município é uma região que está em pleno desenvolvimento e, por conta disso, tem recebido cada vez mais novos moradores e empreendimentos de alto padrão que garantem qualidade de vida a quem escolhe o local para morar.

Nos últimos anos, Nova Lima ganhou novos condomínios que oferecem e unem o ar de interior a todas as facilidades de estar próximo de Belo Horizonte e a previsão é que novos negócios sejam implantados no município nos próximos anos. Além de condomínios horizontais e verticais de alto luxo, a cidade tem atraído diversos outros empreendimentos comerciais e tecnológicos. Hoje, cidade sedia a escola de negócios Fundação Dom Cabral e é um dos principais lugares de atuação da mineradora Vale, que mantém no local o Centro de Tecnologia de Ferrosos e o Centro de Controle Ambiental, além de sua sede administrativa.

O município, de pouco mais de 90.000 habitantes, além abrigar condomínios de luxo que atraem pessoas que trabalham na RMBH, está recebendo o Projeto Urbanístico CSul, no Alphaville Lagoa dos Ingleses, considerado “O maior projeto de desenvolvimento urbano sustentável da América Latina” que tem previsão de receber, nos próximos anos, diversos empreendimentos unifamiliares, comerciais e educacionais. Também estão previstos outros lançamentos de condomínios fechados na região de Macacos e no Vale do Mutuca.

O estudo aponta onde está a concentração de renda

Com Nova Lima em primeiro lugar, o estudo da FGV tem em seguida os municípios de Santana de Parnaíba (SP) com renda de R$ 5.384,77 em segundo; em terceiro lugar, está Aporé (GO), com R$ 5.233,93; seguido de São Caetano do Sul (SP), com R$ 4.565,34, e Niterói (RJ), com R$ 4.186,52. Ao analisar as capitais, o estudo aponta Florianópolis como a de maior renda mensal média entre os mais ricos. Em segundo lugar está Porto Alegre (RS), R$ 3.725,15; seguido por Vitória (ES), R$ 3.516,16; São Paulo (SP), R$ 3.387,37; e Curitiba (PR), R$ 3.241,36.

O estudo leva em conta dados de rendimento declarados no Imposto de Renda Pessoa Física de 2018, divididos pelo total da população dos lugares, com o objetivo de analisar a média de rendimento das pessoas mais ricas e onde há maior concentração delas no Brasil. Segundo o estudo, os dados do IR permitem captar a renda dos mais ricos com mais propriedade. De acordo com o economista Marcelo Neri, autor do estudo, 14,4% da população declara o IR.

O pesquisador ainda fez a comparação entre a média de rendimentos da população em geral e apenas entre aqueles que declaram IR. Para chegar a esses números, Marcelo Neri calculou a proporção de declarantes de IR em relação à população total. Também usou a renda média declarada no IR dividida pela população total ou pelos declarantes, desconsiderando rendas informais ou não declaradas. Embora também tenha levantado os dados sobre patrimônio, ele concentrou a análise na renda.

“Os dados do IRPF (…) nos permitem captar a renda dos mais ricos brasileiros com mais propriedade que os dados de pesquisas domiciliares tradicionalmente usados em estudos sobre pobreza e desigualdade. Assim, podemos pensar os critérios para declaração do Imposto de Renda como uma espécie de linha de riqueza que permite identificar os residentes no país com maior poder de compra seguindo as regras tributárias vigentes”, argumenta Marcelo Neri no documento.

Lago Sul no DF: a elite do funcionalismo concentra mais renda

O economista Marcelo Neri se debruçou sobre os dados específicos do Distrito Federal, unidade da federação que tem maior renda média. Na capital federal foram abertos os dados por regiões administrativas e o Lago Sul é a porção mais rica do DF – se fosse um município, seria o mais rico do Brasil. Lá, a renda média dos moradores é de R$ 23 mil, número que salta para R$ 38,4 mil entre os declarantes.

Como o nome indica, a região administrativa fica localizado na margem sul do Lago Paranoá e tem uma situação bastante privilegiada na comparação com a realidade brasileira. O IDH da região já bateu 0,945, o que representa um indicador de altíssima qualidade de vida.

O bairro nobre de Brasília é o lar de muitos servidores públicos, principalmente da União. Dados da Receita Federal já mostraram que, entre as dez carreiras com maiores salários no Brasil, seis são do setor público. Na avaliação de Marcelo Neri, essa combinação de dados mostra a urgência da discussão sobre a reforma administrativa, numa ampla revisão dos custos do estado brasileiro.

Outras cinco regiões do DF concentram bastante renda. Nelas os moradores ganham, em média, bem menos que os do Lago Sul – mas muito mais que a média dos brasileiros. De acordo com a pesquisa de Neri, a renda média dos moradores supera o patamar dos R$ 10 mil no Lago Norte (R$ 12,1 mil), Sudoeste/Octagonal (R$ 11,4 mil), Jardim Botânico (R$ 10,9 mil), Brasília/Plano (R$ 10,4 mil) e Park Way (R$ 10,3 mil).

Moradores comentam o Estudo da FGV

Após tomarem conhecimento do estudo da FGV, muitos moradores discordaram do levantamento. A cidade com pouco mais de 90 mil habitantes e orçamento que beira R$ 700 milhões, possui cenários muito adversos.

“É preciso olhar ao redor”

Para o empresário Dalmo Lúcio Mendes Figueiredo, morador do Residencial Nascentes, no Vale dos Cristais, Nova Lima possui ocupação territorial com características específicas que contingenciam as diversas formas de ocupação. “De um lado temos os condomínios residenciais horizontais e o Vila da Serra, que é uma extensão de Belo Horizonte. Do outro, temos o Centro da cidade, os bairros mais afastados e os distritos. Cada um com suas especificidades e deficiências de serviços, como saneamento, por exemplo. Quem veio para os condomínios, veio em busca de montanhas, de segurança e qualidade de vida. Mas, é preciso lembrar que os condomínios fazem o papel do poder público, coletando seu próprio lixo, conservando as ruas, por exemplo. Em alguns casos, até mesmo realizando obras de infraestrutura urbana, como foi o caso da Rua das Cores, no Vale dos Cristais, empreendimento feito pelo Colégio Santo Agostinho e pela Odebrecht. Talvez por isso, o superávit do cofre público em Nova Lima. Então, na minha opinião, não se pode dizer que essa é a cidade mais rica do Brasil. É preciso olhar ao redor e conhecer a realidade de cada região”, ressaltou Dalmo.

“Qualidade de vida de todas as regiões”

Adriana Buratto e o marido, Henrique Melo, são moradores do Vila da Serra desde 2009. Em 2006 eles foram atraídos para bairro, na época sem muitas construções, mas próximo de BH, com muita área verde e em uma região tranquila. “Acabamos incorporando Nova Lima como sendo a nossa cidade. Hoje, vemos uma região com muito adensamento que tem um comércio próprio, de qualidade e diversificado que até diminui a transição para outros lugares e deslocamentos. No entanto, não podemos ser taxados de ricos em Nova Lima, embora muitas pessoas entenderem que achamos isso bacana. Queremos uma cidade que oferece toda infraestrutura necessária e que aplique os impostos aqui arrecadados para promover a qualidade de vida de todas as regiões de Nova Lima. A cidade é muito grande, possui muitas extremidades abandonadas e isso é um desafio para qualquer gestão pública. Entendo que a prefeitura poderia trabalhar de forma conjunta e estruturada para que cada região mostre a sua aptidão, quer seja para o turismo, para a cultura, inovação, gastronomia ou até mesmo ecológica,” relata Adriana.
Para ela, também a vinda de pessoas com poder aquisitivo para a região do Vila da Serra e de condomínios deveria trazer muitos benefícios para toda a cidade. “Que tragam novos negócios, mais geração de emprego e renda para o município. E que todas as transferências correntes dentro do orçamento de Nova Lima, provenientes de repasses ao município, sejam realmente aplicadas em favor da qualidade de vida de todos os nova-limenses.”

“É preciso que todos vivam muito bem”

Henrique Melo, administrador e empresário, lembra que em 2006, um empreendedor apresentou a ele o projeto de seu edifício e imediatamente se sentiu atraído para a aquisição. A obra durou três anos e em 2009 ele e a família se mudaram para o Vila da Serra. “Sempre gostamos de morar aqui pela questão do clima, da mata próxima. A proximidade com Belo Horizonte acabou atraindo mais pessoas e nada foi feito em termos de infraestrutura para segurar esse crescimento. Hoje, por causa da pandemia, temos uma pausa no fluxo de trânsito, mas geralmente ele é o grande complicador.  A nossa rua recebe um grande movimento de saída de veículos e moradores e por isso a via sempre está congestionada. Entendo que as prefeituras deveriam atuar em conjunto para solucionar esse gargalo que se forma na divisa dos dois municípios.
Acredito que a região do Vila da Serra e os condomínios de Nova Lima contribuíram para essa classificação. Os condomínios utilizam apenas uma parte da infraestrutura do município. E no Vila da Serra há uma aglomeração de empreendimentos bons e luxuosos, construídos ao longo desses anos e talvez seja por isso que chegaram a esses dados do estudo. Mas, eu não vejo dessa maneira, porque para uma cidade ser considerada a mais rica do Brasil é preciso que todos vivam muito bem. A porcentagem da população que não possui condições na cidade é muito grande. Então, isso é muito relativo e não condiz com a realidade do município”, destacou Henrique Melo.

Região Nordeste: “Loteamentos regularizados”

Ismar Basílio da Cruz, técnico em eletrônica aposentado e atualmente presidente de uma ONG que assiste crianças e jovens em trabalhos culturais e esportivos em Honório Bicalho, entende que a concentração de pessoas ricas está no Vila da Serra, em condomínios e em alguns bairros específicos de Nova Lima onde existe loteamento regularizado. E que o mérito dessa concentração de riqueza é dos próprios moradores que vieram em busca de qualidade de vida e acabaram investindo nesses locais. Segundo ele, as mineradoras proprietárias de terrenos e o poder público esqueceram de implantar os ‘loteamentos regularizados’. “Se houvesse uma regularização na Região Nordeste, por exemplo, onde moro e atuo, talvez ela iria atrair mais pessoas, empresas e empresários. Isso formataria um novo modelo de vida. Não temos como medir essa disparidade com os condomínios e edifícios do Vila da Serra, mas a qualidade de vida é o melhor exemplo para atrair a riqueza, independentemente de qual seja ela.”

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