Belvedere Em Dia: Consumo consciente

Vencendo preconceitos, brechós ganham novo status impulsionados pelos princípios da economia circular e da sustentabilidade  

Foi na década de 1990 que a estética retrô ganhou o aval da moda e os brechós tiveram permissão para entrar no mundo fashion pela porta da frente. Revisitar o passado, garimpar peças únicas, descobrir vestimentas e acessórios preciosos, entrou para a agenda de jovens antenados, que adotaram a novidade para montar looks autorais e diferenciados. A afirmação dos conceitos de sustentabilidade, economia circular, upcycling, entre outros que caminham a passos largos no século 21, contribuiu para que a prática se disseminasse e encontrasse seu apogeu nas redes sociais, onde os grupos de desapego se proliferam. A máxima é prolongar a vida útil daquela roupa ou objeto. O planeta agradece, já que um dos problemas com que ele se depara é o descarte dos resíduos, particularmente os têxteis. 

O assunto ganhou a atenção da jornalista e professora Valéria Said, que é adepta da tendência. O seu mestrado em Estudos Culturais Contemporâneos, na Fumec/Fapemig, teve como tema a “Cultura  vintage na moda e sua dimensão política, cultural e filosófica”, e ela tem muito a ensinar, como, por exemplo, que o termo brechó é expressão brasileira. “A origem remonta ao final do século 19. Conta-se que um mascate de nome Belchior vendia roupas e artigos de segunda mão, no Rio de Janeiro, em sua Casa do Belchior. Esse estabelecimento ficou tão conhecido que passou a designar, pela corruptela ‘brechó’, todo tipo de comércio de usados”.Continua depois da publicidade

A partir da pesquisa, a especialista descobriu que é possível categorizá-los em três formas de percepção imediata para se identificar a curadoria oferecida:Continue sempre bem informado.Assine o Estado de Minasos secondhansd, mais comuns, comercializam qualquer tipo de roupas ou acessórios usados e são procurados por consumidores que querem fazer economia e comprar peças de segunda mão em bom estado de conservação. “Muitos vezes confundidos com bazares filantrópicos, dão um caráter popularesco ao comércio, remetendo às origens caritativas do mercado de usados do século 19 (fliperie). Em geral, oferecem roupas mais próximas da estética mainstream, mas é possível se encontrar peças vintage. A frugalidade é apontada como motivação principal para a compra nesses locais”, observa. 

Os brechós label são os especializados em grifes e multimarcas do mercado do luxo, ideais para se adquirir produtos e acessórios seminovos de estilistas brasileiros e internacionais por preços acessíveis aos valores das lojas. “O consumo dessas peças é carregado de status social pois, ainda que sejam peças usadas, exigem certo capital para serem adquiridas”, define Valéria.Por fim, existem os brechós vintage (thrift shops vintage), onde as roupas são valorizadas pelo seu aspecto histórico e afetivo. “Neles há uma preocupação maior com a biografia das roupas, a garimpagem está relacionada ao prazer da experiência de “caça ao tesouro”, ou seja, de garimpar determinados estilos vintage do século 20 a preços diferenciados. Os consumidores dessa categoria podem ser classificados como connoisseurs, pois sua garimpagem exige certo capital cultural para a produção de looks autorais, afetivos e criativos, cujo desafio de estilo é saber misturá-los com peças contemporâneas, evitando a aparência caricatural”, enfatiza a jornalista. Segundo ela, as três categorias têm propostas sustentáveis atreladas à vida útil das roupas e funcionam melhor quando o consumidor está ligado no consumo consciente.
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Tradicional Frequentado por um público cool, o Brilhantina é um dos mais conhecidos brechós de Belo Horizonte. Instalado há 17 anos na Savassi, a proprietária Raquel Fernandes acompanha com interesse o crescimento desse mercado. Se antes corria atrás de fornecedores, hoje são eles que chegam até o local levando seus desapegos. “Com a tecnologia, agora faço a curadoria por internet, o que facilitou muito o trabalho. Muitos começam como fornecedores, tomam gosto, e terminam como clientes”, informa a empresária. 

Filha de costureira, ela conta que, muitas vezes, solicitava à mãe um vestido novo, e não podia ser atendida. “Ela estava sempre ocupada com suas demandas, e eu, levada por um gosto pessoal, ia garimpar nos brechós para me vestir como queria com preço acessível”. Apesar de, atualmente, oferecer também peças contemporâneas, o foco da loja é o vintage. É ele que mais desperta a atenção de um público, entre 25 a 55 anos, que aprecia moda, valoriza uma compra especial motivado pela qualidade das roupas e pelo estilo diferenciado. “É um comércio de oportunidade, tudo é único, o velho para você torna-se novo para outro”, sintetiza Raquel. O Brilhantina detém um acervo precioso de peças dos anos 1930 e 1950 e é muito procurado pelos produtores e stylists para produções e editoriais fashion. “Observo ao longo do tempo que há uma mudança de consciência, principalmente na cabeça dos novos estilistas, compondo coleções menores e sustentáveis”, observa.
Desapego O instagram Wabi Desapego tem chamado atenção virtualmente, nas redes sociais, com campanhas que unem figuras conhecidas nessa plataforma, com competência para incentivar o consumo, e movimentos sociais com cunho beneficente. As responsáveis pelo empreendimento são as engenheiras Sâmara Menighi e a advogada Karina Coutinho, que resolveram investir em uma proposta com conteúdo diferente. O projeto ainda é um bebê, nasceu em janeiro, mas está fazendo barulho.Os lançamentos são divididos em temporadas. A primeira delas foi protagonizada pela jornalista Natália Dornellas, integrante do poadcast “As perennials”, que entregou as organizadoras cerca de cem peças e posou com várias delas nos posts da Wabi. Com a pandemia, houve um break e a segunda temporada teve como foco as obras sociais da AMR – Associação Mineira de Reabilitação, cujo orçamento foi abalado com a chegada do Coronavírus. “Parte da renda com as vendas foi direcionada para lá”, explica Sâmara. Já na terceira temporada, a escolhida foi a escritora e publicitária Cris Guerra, criadora do “Hoje vou assim”, o primeiro site de looks do dia do Brasil , que possui 94, 3 mil seguidores no seu instagram @eucrisguerra. A experiência tem dado certo e é fruto de muita pesquisa. “Participei de outros grupos de desapego, comecei a pesquisar sobre economia circular, consumo consciente, sustentabilidade. Estamos investindo em uma nova ferramenta de vendas em parceria com uma starup e nosso próximo passo será com uma marca de upcycling de Curitiba. A campanha será destinada a ajudar um hospital”, ela anuncia.

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